segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A Passagem.

Toda corrida grande, ou seja, aquela que tem algum significado pessoal relevante, tem um certo momento em que o ar dentro dos pulmões parece dobrar de volume... Por um breve período, como se por algum tipo de mágica, todo oxigênio do ar que é inalado parece não ser absorvido e o peito se transforma num tambor oco, reverberando as batidas do próprio coração.

Na primeira vez que corri a São Silvestre, foi logo após a largada, na entrada do Túnel da Consolação que a mágica aconteceu... A consequência desse efeito: não contive as lágrimas e chorei copiosamente, lutando bravamente para continuar correndo, respirando e vivendo aquele momento único. Jamais me esqueceria desse dia...

Na segunda vez eu estava preparado para o que viria. Apesar de já não ser mais um legítimo novato, quando entrei no mesmo Túnel, senti aquela vibração incrível, como se num transe coletivo, uma espécie de alucinação global. A troca é forte, a experiência, mítica.

O barulho ensurdecedor dá início à viagem metafísica, assim como as turbinas do avião anunciando sua decolagem. Ali debaixo, no meio dos moradores de rua enfiados em suas barracas improvisadas, no coração da Cidade, um portal é aberto por alguns instantes, todo último dia do ano. A claridade do dia é brevemente apagada. Depois, um clarão! Escuridão novamente e enfim, a luz. Uma vez que você cruza esse pequeno portal lisérgico, sua vida nunca mais será a mesma.

Na terceira vez, eu já conhecia o potencial daquele Túnel. Dessa vez, eu já estava preparado. Com as experiencias anteriores, pude desfrutar das sensações que a sua travessia despertam e melhor observá-las. Mas, dessa vez, eu não estava sozinho... Eu também seria um expectador dos efeitos do portal...


E foi assim que, pela terceira vez, cruzei o tal do Túnel, emocionado como antes, mas dessa vez pelo privilégio de presenciar – maravilhado – o (re)nascimento de uma guerreira.

Parabéns pelo belíssimo batismo de fogo! 




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