Toda corrida grande, ou seja, aquela que tem algum
significado pessoal relevante, tem um certo momento em que o ar dentro dos pulmões parece dobrar de volume... Por um breve período, como se por algum tipo de
mágica, todo oxigênio do ar que é inalado parece não ser absorvido e o peito se
transforma num tambor oco, reverberando as batidas do próprio
coração.
Na primeira vez que corri a São Silvestre, foi logo após a
largada, na entrada do Túnel da Consolação que a mágica aconteceu... A consequência
desse efeito: não contive as lágrimas e chorei copiosamente, lutando bravamente
para continuar correndo, respirando e vivendo aquele momento único. Jamais me
esqueceria desse dia...
Na segunda vez eu estava preparado para o que viria. Apesar
de já não ser mais um legítimo novato, quando entrei no mesmo Túnel, senti
aquela vibração incrível, como se num transe coletivo, uma espécie de
alucinação global. A troca é forte, a experiência, mítica.
O barulho ensurdecedor dá início à viagem metafísica, assim
como as turbinas do avião anunciando sua decolagem. Ali debaixo, no meio dos
moradores de rua enfiados em suas barracas improvisadas, no coração da Cidade,
um portal é aberto por alguns instantes, todo último dia do ano. A claridade do
dia é brevemente apagada. Depois, um clarão! Escuridão novamente e enfim, a luz.
Uma vez que você cruza esse pequeno portal lisérgico, sua vida nunca mais será
a mesma.
Na terceira vez, eu já conhecia o potencial daquele Túnel.
Dessa vez, eu já estava preparado. Com as experiencias anteriores, pude
desfrutar das sensações que a sua travessia despertam e melhor observá-las. Mas,
dessa vez, eu não estava sozinho... Eu também seria um expectador dos efeitos
do portal...
E foi assim que, pela terceira vez, cruzei o tal do Túnel, emocionado
como antes, mas dessa vez pelo privilégio de presenciar – maravilhado – o (re)nascimento de uma guerreira.
Parabéns pelo belíssimo batismo de fogo!